A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) analisou os riscos mais significativos que se perspetivam para 2023 tendo em conta o contexto económico e geopolítico.
A CMVM faz ainda dois avisos especiais relativos aos criptoativos e aos ataques cibernéticos.
A análise consta do Risk Outlook 2023I, que inclui também os resultados de um teste de esforço à liquidez dos fundos de investimento mobiliário, que a CMVM considerou pertinente na presente conjuntura de elevada incerteza e volatilidade nos mercados.
Principais riscos
Para 2023 são identificados cinco principais riscos:
- risco de mercado,
- risco de liquidez,
- risco de crédito,
- risco de conduta e
- riscos operacionais.
No que diz respeito aos criptoativos, a oferta de serviços e produtos fora do perímetro da regulação e da supervisão expõe esses mercados e os seus participantes a riscos significativos.
É apontada a falta de transparência quanto às estratégias delineadas, aos modelos de negócio e ao grau de risco e liquidez dos ativos, são exemplos da insuficiência de informação prestada aos investidores (e do risco que assumem).
A CMVM prevê que os ataques cibernéticos continuarão como o tipo de eventos que maior risco operacional acarreta para os mercados financeiros e para os seus intervenientes.
É expectável que ao longo do próximo ano o risco elevado se mantenha e com tendência ascendente.
Risco de mercado
O risco de mercado é classificado como muito elevado.
Nos mercados acionistas, incluindo em Portugal, persistem sinais de sobrevalorização, dada a atual conjuntura e as perspetivas de deterioração do crescimento económico e apesar das quedas significativas de cotações registadas após o início da guerra na Ucrânia.
Risco de crédito
A graduação do risco de crédito associado aos emitentes soberano e privados é considerada elevada com perspetiva ascendente, dado o agravamento generalizado das condições de financiamento num contexto de aumento das taxas de juro (designadamente por parte dos bancos centrais para conter a subida da inflação).
A atual estrutura de financiamento dos emitentes privados, bem como as recentes revisões em alta das notações de crédito da República Portuguesa, contribuem para que o risco de crédito no mercado nacional não seja classificado como muito elevado.
Risco de conduta
A CMVM aponta aqui a continuação das ineficiências na gestão dos riscos ESG e da existência de riscos de greenwashing. Os casos de entidades suspeitas de práticas de greenwashing afetam a credibilidade dos mercados financeiros e a confiança dos seus participantes, em especial dos investidores.
Em matéria de exigências de reporte sobre a incorporação de elementos ESG (ambiente, sociedade e governação das entidades) nos mercados financeiros, prevê-se a continuação da densificação da regulação financeira em 2023.
No entanto, apesar desta tendência, os indícios de ineficiências na gestão dos riscos ESG e as preocupações com os riscos de greenwashing, já identificados em 2021, continuarão.
Risco de liquidez
O risco de liquidez é elevado, mas perspetiva-se relativamente contido no mercado acionista para 2023.
Os montantes negociados no mercado português nos primeiros dez meses de 2022 encontram-se acima dos registados no período homólogo de 2021, apesar da queda mensal que se tem vindo a observar no valor transacionado.
Na gestão de ativos, em particular no domínio dos fundos de investimento mobiliário, aumentaram os resgates em 2022 o que, para a CMVM, pode estar associado à procura de alternativas de investimento com menor risco, uma tendência que poderá prolongar-se por 2023.
Teste de esforço à liquidez dos fundos de investimento mobiliário
A CMVM apresenta também, no presente Risk Outlook, os resultados de um teste de esforço à liquidez dos fundos de investimento mobiliário.
O exercício, sujeito a um conjunto de pressupostos devidamente identificados e contemplando três cenários distintos, pretende aferir a capacidade de os fundos de investimento domiciliados em Portugal fazerem face a volumes anormais de resgates em situações de disrupção dos mercados.
Os resultados obtidos sugerem que, mesmo no cenário mais adverso, apenas 11% dos fundos poderão necessitar do recurso à alienação de títulos menos líquidos, com potenciais perdas associadas a operações de venda com desconto. Neste teste, a generalidade dos fundos de investimento analisados (89%) não necessitaria de realizar operações dessa natureza, dispondo de ativos líquidos suficientes para fazer face a volumes anormais de resgates nos cenários adversos que foram considerados.
Referências
CMVM – «Risk Outlook» para 2023, dezembro 2022
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